quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Jazz e vinho tinto

—Eu te amo. — Ela me diz olhando nos meus olhos. —Eu também, meu amor. — Eu respondo sorrindo. A sala, iluminada apenas por algumas velas, está impregnada pelo jazz que sai da velha vitrola. Encho nossos copos com um pouco mais de vinho. —Sério? Às vezes não parece. — Ela me diz com um olhar suplicante. Deve ser a milésima vez que ela me diz isso em tão pouco tempo do nosso relacionamento estranho. Ela não imagina o quanto eu já sofri por demonstrar todo meu amor a alguém. Respiro fundo e sinto vontade de chorar. — Eu sei, mas é difícil pra eu repetir algo que já me machucou tanto. Tanta dor acabou criando um tipo de prisão dos meus sentimentos. Mas eu tento, eu tento mesmo demonstrar. — Eu respondo depois de algum tempo. Ela se levanta e acende mais uma vela. Penso em como ela fica linda só de calcinha e com a minha camisa. As sombras bruxuleantes da sala fazem eu me sentir num filme antigo. Se ela pudesse ao menos enxergar dentro de mim, o que ela pensaria? —Se você ama mesmo, me descreve o amor. — Ela me diz se sentando de novo ao meu lado no chão. *** Ele pensa. Demora demais para responder. Os segundos viram minutos na minha cabeça. Continuo encarando os olhos verdes dele e admirando seu tronco nu entre as luzes e sombras dançando. Penso em como ele fica lindo com essa calça jeans. —Não sei se dá pra descrever o amor. Mas o que eu sinto é a vontade de ficar perto de você a cada segundo. Sinto calafrios em te imaginar longe, meu coração quase para quando eu imagino que posso te perder. Eu consigo me ver daqui vários anos com você. Me vejo casando com você, tendo filhos com você, envelhecendo com você até o fim dos meus dias e eu nunca consegui visualizar isso com outra pessoa. — Ele responde antes de sorver um belo gole do vinho. Bebo um pouco de vinho e fico pasma. Talvez o filho-da-puta realmente me ame. —Eu te odeio. — Eu digo quase chorando. Ele franze o cenho sem entender nada. — Cara, só você é assim. Quando eu acho que não temos mais salvação você arruma um jeito de fazer tudo ficar bem. E tudo acontece de um jeito tão inocente que me derrete quando eu deveria ficar mais do que puta com você. —Esse é tipo de coisa que te deixa molhadinha? — Ele pergunta sorrindo. Eu sorrio junto mordendo o lábio. —Promete que nunca vai me deixar? *** —Prometo. — Eu respondo de prontidão. Nunca fiz uma promessa tão honesta antes. Os olhos dela se enchem de lágrimas e ela se joga em mim, me abraçando com força. *** Ele me abraça de volta e eu sei que tudo, tudo vai ficar bem. Nós nos beijamos. Fucciolo R.

Pequeno conto que quase todo homem já viveu.

Menino conhece menina. Menino se apaixona pela menina. Menina quebra o coração do menino. O coração do menino fica duro como pedra. Menino vira um babaca com as meninas e sai por aí quebrando corações. Menino amadurece. Menino muda e seu coração não é mais pedra. Menino conhece menina. Menina quebra o coração do menino. O ciclo recomeça. Fucciolo R.

Não cabe em 140 caracteres #2

Aconteceu comigo esses dias… —Você sabe que eu sempre fui apaixonado por você, né? — Eu disse. —Rapha, você nunca foi apaixonado por mim, você nunca foi apaixonado por ninguém. Você sempre foi apaixonado pela idéia de estar apaixonado. E acho que ela tinha razão. As minhas ex-namoradas que me desculpem, mas acho que eu nunca amei de verdade nenhuma delas. A forma como eu lido com o término, a velocidade com que eu esqueço tudo por mais intenso que tenha sido… Talvez seja por isso que eu escrevo sobre amor mais do que eu digo “eu te amo”, a idéia é mais interessante do que a prática pra mim. Acho que às vezes a gente fica tão obcecado procurando aquela forma de amor do romantismo, idealizada que aceita o que vier pela frente e distorce tudo na cabeça, fazendo o lixo parecer perfeito e apaixonante. Talvez o amor do romantismo nem exista, talvez todos estejam presos dentro de uma idéia, tão presos que a idéia passa a ser a realidade. Está na hora de trocarmos os “eu te amo” sem significados para “eu amo a idéia de te amar” que contém muito mais verdade. Fucciolo R.