terça-feira, 31 de outubro de 2017

Eu te prometo

Os olhos, foram os olhos dela que me fizeram apaixonar. Profundos, tão fundos, e falam, falam muito! Mas não foram só os olhos, foi a boca, o nariz e a forma como ela caminha. Foi o jeitinho como o sol olha pra ela, nutrindo a pele branquinha e o corpo todo. Gosto mesmo é quando ela me olha sem dizer nada, e me surpreende com um beijo, e me devora com um olhar indecente, e me faz entender sobre filosofia, sociologia e sobre o que há dentro de mim. Adoro o jeito com que se emociona ao lembrar do que viveu, e mais ainda quando diz que só consegue chorar ao lado meu. E é nos seus braços que me transformo em um rascunho de Romero Britto, cheio de luz, cores e um traço bonito. Sabe, ela tem um jeito carinhoso de dizer que me ama, uma voz doce que acalma minha pressa, meu peito e a minha tosse. Ao mesmo tempo, ela é explosão. Ela fala alto, ela fala grande, ela fala direto, sem entrelinhas, sem papas na língua. Ela trabalha muito e é feliz com o que tem, com o que chegou e com o que ainda vem. Ela ri bonito e sorri inteiro. Nada no mundo é mais bonito do que dividir com ela uma coberta macia, uma taça de vinho, um travesseiro. Ela não tem ciúmes, mas pergunta quem é aquela da mensagem. Ela não é grande em altura, mas cabe inteira no meu abraço. Ela me ouve cantar, me ouve falar sem parar sobre aquilo que me encanta a alma e entende quando perco o rumo no meio da caminho. Ela me guia, me faz olhar para os dois lados da rua e prestar atenção no todo. Ela não se importa de carregar minhas coisas na bolsa ou meu casaco enquanto me faz caminhar pela cidade inteira. Ela se importa comigo, com o que como, com o quanto tomo de água no dia, com meu trabalho, com minha rotina. Eu só consigo ficar intacto agradecendo pela alegria que divide comigo. Não é apenas pelo conhecimento que ela compartilha, pelo corpo desenhado em nobres linhas ou por tudo de bom que ela me oferece. Também é pela tristeza que armazena no peito, que a sufoca sem respeito e por como isso a distancia de tudo. É como isso me afeta e também me transforma. É como isso me deixa mais forte para arrancar a dor que ela sente, sem machucar, sem ferir, sem julgar. O pacote completo que escolhi para carregar comigo é de carne e osso, graças a Deus! E é no meu abraço que ela mora, é no meu beijo que ela se demora e é na saudade que se abre. Não sei ao certo de onde ela veio, mas entendo perfeitamente para onde ela está indo. E quero ir junto, e quero ir logo, e quero carregar no colo para que nada machuque seus pés pequenos. Eu te prometo! Por Vanelli Doratioto

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Teoria do cachorro e do osso

“Melhor eu ir embora.” Eu disse depois de alguns minutos de silêncio. “Ok.” Ela responde sem cerimônia. “Só isso? Só ‘ok’?” “O que mais você quer de mim?” Eu levando da cama e começo a me vestir. O que eu quero dela? Quero a garota do começo do namoro de volta. Aquela que não parava de sorrir quando olhava nos meus olhos. Aquela que dava risada de qualquer bobagem que eu dizia. Aquela me seduzia quase que o tempo todo e não largava de mim. Agora quando ela me chama de amor, parece mais que ela esqueceu meu nome do que um apelido carinhoso. Agora ela se esquiva de todas as investidas sexuais como se eu a deixasse nauseada. Agora os beijos são secos e automáticos, como se fossem dados por obrigação. “Eu que te pergunto. O que você quer de mim? Você não deu um sorriso a noite toda, me deu um beijo seco quando cheguei, evitou me abraçar e recusa o sexo matinal que nunca tinha faltado antes.” Ela fica em silêncio de novo. “É isso? Você vai me deixar?” Ela diz finalmente. “Não, eu vou te dar espaço pra pensar no que você quer de mim.” Eu respondo já na porta. “Me liga quando souber.” Bato a porta atrás de mim e acendo um cigarro enquanto desço a rua. Quatro anos depois e ainda espero aquela ligação. Fucciolo R.